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Rumo à integraçtto entre a América Latina e o Caribe

Rumo à integração entre a América Latina e o Caribe

La integración entre America Latina y el Caribe podrá ser una realidad cuando se cobre realmente conciencia de los factores culturales resultantes del proceso de colonización, la liberación de las metrópolis europeas y las consecuencias de las diversas dictaduras que sufrió la región. Estas carencias y los conflitos étnicos y fronterizos dificultan el sueño de la integración.

Oscar D'Ambrosio. Universidade Federal de Pelotas / "O sistema de governo mais perfeito é aquele que produz maior soma de felicidade, maior soma de segurança social e maior soma de estabilidade política". As palavras de Simón Bolívar no Discurso de Angostura, em 1819, ilustram o caminho que deve ser seguido para uma efetiva integração entre a América Latina e o Caribe. Sem a prevalência de ideais democráticos nos países da região, torna-se difícil uma união em busca de objetivos comuns.
Qualquer reflexão histórica e social com o objetivo de mostrar uma proposta de integração precisa levar em conta, no mínimo, três momentos decisivos da História americana: (1) a destruição dos povos autóctones e da sua cultura pelos colonizadores; (2) a libertação traumática das metrópoles colonizadoras européias; e (3) a existência, na América Latina e Caribe, de diversos regimes ditatoriais e, em certas regittes, de rivalidades entre grupos raciais ou étnicos no interior de uma nação, além de conflitos entre países limítrofes.
O essencial é fornecer subsídios para que possa ser encontrado um caminho de integração que trabalhe sobre as identidades culturais, mas que saiba respeitar diferenças e mantê-las, pois as minorias, sejam raciais, étnicas ou políticas, precisam ter seus direitos garantidos. Caso contrário, qualquer proposta de integração, seja econômica, social, política ou cultural, não passará de uma farsa dominada por burocratas que não trará benefícios a faixas significativas das populações dos países envolvidos.
Apenas para se ter uma idéia do processo de deterioração cultural a que os povos americanos foram submetidos, basta lembrar a estimativa de que, na última década do século XV, havia mais de duas mil línguas na América. Com a chegada dos espanhóis e portugueses, boa parte da cultura indígena foi eliminada.
A autonomia política dos países latinoamericanos e caribenhos foi geralmente conseguida com grande dificuldade em guerras que exigiram a participação de militares decididos que se tornaram heróis nacionais. Vindos de famílias coloniais privilegiadas, estudavam na Europa e colocavam os ideais revolucionários vigentes nas cortes francesa e espanhola em prática no novo mundo. é o caso de Simón Bolívar, San Martín e Sucre, entre outros.
Os históricos ditadores que exerceram seu poder arbitrário na América Latina e Caribe também deixaram seqüelas que a região precisa superar. Talvez o pior exemplo venha do Paraguai. Trata-se do ditador José Gaspar Rodriguez Francia (1776-1840). Conhecido como El Supremo, governou o país durante 26 anos. As medidas do seu governo eram contraditórias. Por um lado, havia estímulo à miscigenação entre brancos e indígenas, obrigatoriedade da instrução primária, modernização da agricultura e implantação de indústrias. Pelo outro, existiam medidas repressivas que proibiam a emigração, caracterizando uma política externa isolacionista aliada a extremo nacionalismo. Por isso, as medidas louváveis acabavam se perdendo em um regime violento e repressivo. De fato, o Brasil, nos anos 70, viveu fenômeno semelhante. Os anos do "milagre econômico" velavam cruéis atos de tortura e violência, os chamados subversivos.
No Caribe, há o triste exemplo da República Dominicana. Independente desde 1844, viveu, no século XX, uma das mais violentas ditaduras do continente. O protagonista dessa busca por poder desmedido foi Rafael Leónidas Trujillo y Molina, presidente do país de 1930 a 1952. Ele governou o país como se fosse um latifúndio de sua propriedade e chegou até a mudar o nome da capital, substituindo a denominação Santo Domingo para Ciudad Trujillo. Seu assassinato, em 1961, foi o desfecho de uma vida ególatra, infelizmente bastante comum entre os que governam nações na América Latina e Caribe.
Disputas entre diferentes etnias dificultam a integração. é o que ocorre no Suriname. Os navegantes europeus conheceram a região no século XVI e entraram em contato com os habitantes locais: arauaques, tupis e caraíbas. Holandeses e ingleses alternaram-se no domínio da região. Em 1815, os primeiros consolidaram sua posição colonial e instalaram engenhos de açúcar, importando escravos africanos. Com o fim do tráfico em 1863, a região recebeu, durante a década seguinte, imigrantes indianos e, a partir de 1890, começaram a chegar trabalhadores javaneses. Atualmente, os partidos políticos locais representam os diversos grupos étnicos e integrá-los rumo a uma nação unida não é tarefa simples devido às inúmeras rivalidades e diferenças culturais.
Os conflitos entre países por fronteiras também são mais comuns do que se poderia imaginar. Argentina e Chile enfrentam litígios pelo Canal de Beagle e Peru e Equador disputam algumas áreas territoriais até hoje. Um caso célebre de disputa de fronteiras ocorreu com a Colônia de Sacramento no séculos XVII e XVIII. Fundada pelos portugueses em 1680 quase em frente a Buenos Aires, a colônia tinha como principal objetivo quebrar o monopólio espanhol na região do rio da Prata, assegurando aos lusos uma posição estratégica e a participação no contrabando de manufaturados ingleses em troca de matéria-prima das colônias. No entanto, desde sua fundação, a Colônia de Sacramento foi marcada por constantes batalhas entre portugueses e espanhóis em disputa pelo domínio do território. Finalmente, em 1777, pelo Tratado de Santo Idelfonso, a área tornou-se uma colônia espanhola até ser anexada à banda oriental do Uruguai.
Portanto, propostas de integração entre América Latina e Caribe precisam levar em conta que os povos autóctones foram praticamente exterminados pelos colonizadores, sejam eles espanhóis, franceses, ingleses, portugueses ou holandeses. Direta ou indiretamente, houve lutas que resultaram no extermínio de culturas inteiras, principalmente as grandes civilizações asteca, maia e inca, mas também a de indígenas caribenhos, de todo o Brasil e do sul da Argentina.
Conflitos internos também dificultam negociações de integração. Além disso, diversos países, principalmente os caribenhos, convivem com diversidades étnicas e raciais difíceis de serem harmonizadas sem o exercício pleno da cidadania e da democracia. A questão agrava-se quando se pensa nos conflitos militares e diplomáticos por fronteiras que ainda são uma realidade na América do Sul e em certas regiões do Caribe. Sem soluções diplomáticas em que haja consenso dos países envolvidos, não se pode pensar seriamente em integração. O único caminho é o do desarmamento generalizado e da conscientização de que se vive um mundo cada vez mais marcado pela globalização.
Porém, isso não significa ignorar diferenças, mas sim o entendimento das mesmas e o trabalho árduo e constante, em todos os níveis, desde o diplomático ao comercial, do esportivo ao religioso, do político ao policial, para que das semelhanças aqui mostradas entre os países da América Latina e do Caribe (destruição da cultura autóctone, libertação traumática das metrópoles européias, convivência com regimes ditatoriais, violência política e explícita devido a conflitos externos e internos por motivos raciais, étnicos e sociais) sejam encontrados os pontos de partida para uma convivência harmoniosa e a formação de um bloco integrado em práticas econômicas, políticas e culturais que sejam do interesse da maioria das nações da região.
O maior ensinamento, como bem alertou Simón Bolívar, no mencionado Discurso de Angostura, está em não deixar que os interesses individuais superem os coletivos: "Nada é tão perigoso como deixar um cidadão permanecer por muito tempo no poder. O povo acostuma-se a obedecer-lhe e ele se acostuma a mandar no povo, donde se originam a usurpação e a tirania". Se estas palavras forem efetivamente ouvidas pelas nações do Caribe e América Latina e os direitos humanos forem respeitados em todas as suas dimensões, a integração poderá ser um sonho bem antes do que se imagina e as palavras de Bolívar serão uma realidade quase dois séculos depois.
Oscar D'Ambrosio é jornalista, crítico literário e vencedor do Concurso Literário Internacional "Integração da América Latina e do Caribe" promovido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel - Pelotas - RS- Brasil).


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