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Diálogo Iberoamericano

Núm. 10 / julio-agosto 1997. Pág.3

Encontro de reitores da América Latina

A Universidade Federal de Pelotas, nos dias 11, 12 e 13 de maio, no Centro de Integração do Mercosul, promoveu o Encontro de Reitores da América Latina com o propósito de discutir estratégias para harmonização curricular. Além de dirigentes das universidades dos países que integram o Mercosul, foram também convidadas personalidades exponenciais do ensino superior da Europa ligadas ao Grupo de Coimbra, que trouxeram para o evento as experiências das instituições européias nessa área.

Carlos R. Ziebell (DIPI-UFPEL) A abertura do Encontro contou com a presença do Governador do Estado, Ant“nio Britto, que, na oportunidade, anunciou a liberação de recursos para o Centro de Biotecnologia da Universidade. O Governador aproveitou sua estada em Pelotas para lançar oficialmente o Programa Juventude Solidária, criado pelo Governo do Estado e desenvolvido junto a quatro universidades. Ainda no ato de instalação do evento, a reitora da UFPel, professora Inguelore Scheunemann de Souza, disse que o primeiro passo para que as universidades assumam um novo papel perante à globalização será a similaridade entre os cursos e a harmonização dos currículos, que permitirá a mobilidade de docentes e estudantes.
No segundo dia, os participantes do Encontro tiveram a oportunidade de ouvir a respeitada opinião do professor Flávio Fava de Moraes, reitor da Universidade de São Paulo, que, falando sobre identidade Universitária e Estratégia Curricular, citou os desafios que podem ser enfrentados na promoção da adequação curricular frente aos aspectos institucionais que se confrontam com o privado e a ação política. Segundo ele, são necessárias mais pesquisas, mais transferências de resultados, bem como a socialização do conhecimento e novas formas de enfrentar o ensino massivo sem perder a identidade e a qualidade. "As instituições devem buscar sua identidade, já que nenhuma universidade consegue ser eficiente em tudo o que faz. Para não correr riscos, é preferível optar por áreas em que se consiga fazer bem feito", preconizou o reitor da USP.
O diretor de Avaliação da CAPES (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Adalberto Vasques, anunciou que a pós-graduação brasileira está sendo alvo de um grande estudo que deverá gerar novidades como a desconcentração regional, a definição de prioridades segundo as tendências do setor produtivo, a flexibilização do modelo atualmente existente e o fim do conceito de curso, com a introdução dos programas de pós-graduação.
Cláudia Baena Soares, da Assessoria Internacional do Ministério da Educação do Brasil, relatou os acordos já assinados no âmbito do Mercosul Educacional, enquanto Wildo Almirrón, do Departamento de Assuntos Universitários do Paraguai, falou sobre o sistema de Educação superior de seu país e as perspectivas do processo de globalização.
"O Julgamento da Diversidade: o ensaio europeu" foi o tema da conferência do professor da Universidade de Coimbra (Portugal) e Coordenador do Programa Erasmus, Joaquim Romero Magalhaes, que falou sobre a evolução da integração curricular entre as universidades européias. Segundo ele, deve-se buscar o entrelaçamento dos currículos, enriquecendo o aprendizado do estudante.
No último dia do evento, o professor Florentino García Santos, da Universidade de Granada, Espanha, relatou o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Coimbra na promoção de acordos de cooperação entre instituições européias, traçando um comparativo entre os diferentes sistemas educacionais. Em sua opinião, a harmonização curricular deve obedecer diversos critérios, respeitando o princípio da autonomia universitária. Segundo ele, o importante é oferecer ao aluno a oportunidade de complementar seus conhecimentos em outras universidades. "A eliminação de obstáculos para mobilidade educacional e o reconhecimento dos títulos estimula a cooperação entre as universidades, criando um sentimento de confiança mútua", afirmou o conferencista.
O painel "A Presença da Universidade no Processo da Integração do Mercosul" trouxe ao debate o representante da Secretaria da Educação Superior junto ao Comitê Coordenador Regional do Mercosul Educacional/MEC, João Bosco Teixeira, que, embora admitindo o caráter irreversível dessa tendência, advertiu para os riscos da globalização, lembrando que o momento histórico que vivemos prioriza o mercado em detrimento do social. "A globalização apresenta características antag“nicas, claramente contrárias à vocação da Universidade, que não deve se deixar governar por critérios externos", opinou.
A painelista Marília Morosini, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vê a integração da cultura latino-americana como um processo extremamente importante, mas reconhece que as propostas até aqui existentes não são claras, nem simples. Morosini apresentou dados estatísticos sobre a educação superior nos países do Mercosul. Os números revelam a existência de 280 mil formandos ao ano, "o que mostra a grande responsabilidade quanto à mobilidade dos estudantes egressos das diversas áreas".
O hondurenho Elio David Alvarenga, presidente da Rede Latino-Americana para o Desenvolvimento da Qualidade Total em Universidade, afirmou que a inserção da Educação no processo da globalização é urgente e constitui um grande desafio. Fechando o evento, Gabriel Betancur Mejía, que preside atualmente o Comitê Internacional Universitário para a Comunidade Latino-Americana de Nações e a Junta Diretiva da University of the World, e foi ministro da Educação da Col“mbia por duas oportunidades, pregou a necessidade de união de todos os países latino-americanos, pois acredita que, sozinho, o Mercosul não tem a força necessária para competir com a União Européia de Nações. "A razão de ser de uma integração é humana - são seus povos", enfatizou o conferencista.
Grupos de trabalho foram formados durante o Encontro, resultando na apreciação de propostas que deram origem ao documento final do evento, que prevê, entre outras coisas, a criação de uma central regional de informações sobre sistemas educacionais dos países do Mercosul e da América Latina a ser sediada no Centro de Integração do Mercosul, da Universidade Federal de Pelotas.


Carta de Pelotas

Pelotas, 13 de maio de 1997.

No Encontro de Reitores da América Latina - Estratégias para harmonização curricular, realizado no Centro de Integração do Mercosul, da Universidade Federal de Pelotas, de 11 a 13 de maio de 1997, considerando que:
- é missao da universidade criar uma consciéncia integracionista em nível de Mercosul e em apoio á comunidade latino-americana de nações;
Recomenda-se, no contexto da autonomia universitária reconhecida pelos países-membros do Mercosul e da América Latina:
- a aprovação, pelos conselhos diretivos e académicos, de planos de ação concreta - de ensino, pesquisa e extensão, para promover a formação de futuros dirigentes integracionistas e comunitários.
- propiciar a criação, por parte dos reitores, de unidade funcional responsável pela execução das ações acima aludidas. -o fomento de intercámbios de modalidade académica- docentes, discentes e funcionários -através de acordos bilaterais e multilaterais entre as Instituições de Ensino Superior dos países em integração.
- a inserção em todos os currículos, especialmente nas áreas de Educação, Comunicação Social e Ciências Domésticas de temas voltados integração latino-americana.
- a realização pelas Instituições de Ensino Superior de estudos e pesquisas voltados para a análise dos currículos mínimos dos diferentes cursos ofertados na região como apoio á definição de políticas de mobilidade académica e profissional.
- a criação de uma Central Regional de Informações sobre os Sistemas Educacionais dos países do Mercosul e da América Latina no "Centro de Integração do Mercosul" da Universidade Federal de Pelotas.
Finalmente o plenário aprovou o encaminhamento deste documento em português e espanhol, aos Presidentes dos Parlamentos Latino-americano e Europeu e aos Presidentes do Brasil e demais países latino-americanos.


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